Matéria publicada no Jornal Santuário – 25/02/2013
ECONOMIA | POLÍTICA DE CORTES DO GOVERNO NÃO FOI SUFICIENTE PARA RETOMAR MÉDIA ANTERIOR
Toffanin aponta que mercado iniciou ano com expectativa de 3,5% de crescimento para o país e taxa foi reajustada para 3,1%
Deniele Simões
deniele.jornal@editorasantuario.com.br
Analistas e investidores do mercado financeiro estimaram o crescimento da economia brasileira em menos de 1% no ano que se encerrou.
Os dados constam do boletim Focus, do Banco Central do Brasil, e apontam também que em 2013 a previsão é um pouco melhor, mas o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não deverá ultrapassar o índice de 3,1%.
Apesar disso, é preciso ter muita cautela, já que, no final de 2011, as previsões eram otimistas e projetava-se crescimento entre 3,5% e 4% para o PIB de 2012.
O contabilista e especialista em direito tributário, Silvinei Cordeiro Toffanin, ressalta que as expectativas para os últimos dois anos, impulsionadas pelo forte crescimento econômico entre 2004 e 2010, acabaram não se confirmando.
Um dos fatores dessa ruptura foi o alto grau de endividamento das famílias, que cortou parte do consumo. Outra questão que incidiu nos resultados foi a crise internacional.
Segundo o contabilista, a política de cortes de impostos e redução na taxa básica de juros (Selic) não foi suficiente para sustentar o crescimento econômico projetado para o período.
Em entrevista ao JS, Toffanin aponta os setores que mais cresceram e os que registraram menos crescimento no ano passado e faz uma previsão não muito otimista para 2013: crescimento econômico moderado.
O contabilista também analisou questões como a crise econômica na Europa e sua influência no Brasil, o boom no mercado da construção civil e a influência dos programas de transferência de renda no crescimento do país.
Jornal Santuário de Aparecida – As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 2012 eram entre 3,5% e 4%, mas a estimativa foi de 1,3% e dados oficiais apontam crescimento inferior a 1%. A que o senhor atribui esse baixo desempenho?
Silvinei Cordeiro Toffanin – As expectativas de crescimento para a economia geradas no recente período de forte crescimento, que vai de 2004 a 2010, não se confirmaram.
As famílias viram-se endividadas e cortaram parte do consumo. Dessa forma, o comércio se viu estocado e diminuiu as encomendas para a indústria. Aliado a esse cenário de retração do consumo interno, houve a piora da crise internacional.
A política adotada pelo governo, de cortes pontuais de impostos e redução da taxa de juros básica, não foi suficiente para sustentar o crescimento esperado para a economia do país.
JS – Quais foram os setores que mais cresceram em 2012?
Silvinei – O agronegócio e o setor de serviços.
JS – E os que registraram menor crescimento?
Silvinei – A indústria, que registrou crescimento negativo.
JS – Os programas de transferência de renda também fazem parte das estatísticas de crescimento?
Silvinei – Fazem parte, mas devido ao alto grau de endividamento das famílias, o impacto deve ser menor.
JS – O que podemos esperar para o ano de 2013, em termos de crescimento econômico?
Silvinei – Uma taxa moderada de crescimento econômico. O mercado que se manifesta através do boletim Focus, que é o relatório de mercado do Banco Central do Brasil, já vem ajustando essa taxa: iniciou o ano com uma expectativa de 3,5% e já está corrigindo essa taxa para 3,1%.
JS – Apesar do baixo crescimento, os índices do Brasil são considerados superiores aos países europeus. Que fatores explicam essa vantagem?
Silvinei – Os cenários são bastante diferentes. A zona do Euro ainda não tinha se recuperado da crise de 2009 e sofreu novo impacto em 2011. O caminho encontrado pelos governos dos países mais afetados para superar a crise é o de forte contração nos gastos, com uma rígida política fiscal.
Essa atitude está, na verdade, provocando uma terceira onda de contração da economia já mostrando sinais comuns a essa situação: forte contração no nível de investimento, diminuição nos postos de trabalho, perda de renda das famílias etc.
JS – Hoje o Brasil enfrenta um boom na área da construção civil, com o lançamento de inúmeros empreendimentos imobiliários, que acabaram inflacionando o mercado. Não corremos o risco de uma quebradeira nesse sistema imobiliário, como aconteceu há alguns anos nos Estados Unidos?
Silvinei – Qualquer segmento da economia está sujeito a diferentes comportamentos ao longo do tempo. Existe uma diferença básica entre o sistema brasileiro e o americano. Lá se permitia uma nova hipoteca sobre o mesmo imóvel, sem que a primeira estivesse liquidada.
Esse movimento fez com que muitas financeiras viessem a operar fortemente no mercado de subprime, gerando um crédito de baixa qualidade e alto risco. A queda dos preços dos imóveis e a alta dos juros provocaram o aumento da inadimplência e como esses títulos vinham sendo fortemente negociados no mercado dos EUA e Europa, o “calote” provocou a forte crise financeira de 2008.
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